Após o anúncio do CEO global do Carrefour na França, Alexandre Bompard, de que a rede de supermercados não comprará nem comercializará carne de países do Mercosul, o governo brasileiro e entidades do setor pecuário reagiram com críticas, classificando a decisão como protecionista.
O posicionamento ocorre em meio a protestos de agricultores franceses contra a importação de produtos do Mercosul e a possível aprovação do Acordo Mercosul-União Europeia (UE).
Em uma publicação na rede social X, nesta quarta-feira, 20, Bompard afirmou que a medida atende à “consternação e indignação” dos agricultores franceses em relação ao tratado.
Na mesma noite, o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) declarou que a posição do CEO representa “um movimento orquestrado por parte de empresas francesas para dificultar a formalização do Acordo Mercosul-União Europeia”.
Em 2023, o Brasil respondeu por 27% das importações de carne bovina da União Europeia fora do bloco, enquanto o Mercosul, somado, alcançou mais de 55%.
A Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec) criticou a decisão, afirmando que “o posicionamento vai contra os princípios do livre mercado e é contraditório, vindo de uma empresa que opera cerca de 1.200 lojas no Brasil”.
A Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), que representa os setores de carne suína e de frango, também rejeitou a iniciativa, reforçando que a argumentação utilizada “é claramente protecionista e reflete uma visão errônea de produtores locais”.
Por outro lado, o Grupo Carrefour Brasil esclareceu que o anúncio do CEO não afeta suas operações no país nem nos demais integrantes do Mercosul. Além disso, a medida se aplica apenas às lojas na França.
“Todos os outros países onde o Grupo Carrefour opera, incluindo Brasil e Argentina, continuam a operar sem qualquer alteração e podem continuar adquirindo carne do Mercosul. Nos outros países, onde há o modelo de franquia, também não há mudanças”, afirmou em nota.
Protestos na França
Nesta semana, agricultores franceses realizaram protestos contra a assinatura do acordo, alegando que enfrentam altas taxas e não obtêm retornos comerciais justos, enquanto produtos latino-americanos são oferecidos a preços mais baixos.
As manifestações ocorreram nos últimos dois dias, paralelamente à Cúpula do G20, no Rio de Janeiro, que contou com a participação do presidente francês Emmanuel Macron.
O presidente da Federação Nacional dos Sindicatos de Agricultores (FNSEA) da Franaça, Arnaud Rousseau, afirmou que a entidade rejeita “o aspecto agrícola” do acordo “como está redigido atualmente”, mas não esclareceu se a posição pode mudar com eventuais alterações no texto.
Rousseau reconheceu que outros setores econômicos podem se beneficiar do tratado, mas destacou que “no lado agrícola, isso não acontece. Hoje, a agricultura é a contrapartida, aquela que perde na França e na Europa”.
Além disso, Rousseau anunciou novas ações para a próxima semana, entre terça e quinta-feira, para denunciar os “obstáculos” enfrentados pela agricultura.“A partir da próxima semana, estaremos novamente no campo, junto com os Jovens Agricultores, para denunciar os entraves à agricultura e tudo o que hoje limita nossa atividade”, afirmou ele.
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