Não são mais do que 10 segundos para os frascos de exames coletados dos pacientes passarem por um tubo pneumático, “correrem” por esteiras automatizadas e entrem na máquina para processamento do laboratório de análises do Hospital Sírio-Libanês.
Até então, muitas vezes as amostras precisavam ser reunidas e enviadas por um portador a um laboratório externo de processamento. A automação faz com que o resultado saia muito mais rápido do que nos processos manuais – velocidade crucial para tomada de decisão da equipe médica no pronto socorro ou na unidade de tratamento intensivo.
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Foi essa a razão para o Sírio-Libanês investir em seu próprio parque laboratorial, uma estrutura de 1,1 mil metros quadrados que recebeu R$ 20 milhões para a infraestrutura e sistemas de TI.
Os equipamentos, obtidos no formato de comodato, somam R$ 50 milhões, com sistemas de automação e tecnologia de inteligência artificial capaz de identificar amostras que não estão no padrão, por exemplo.
Em operação a partir deste mês, a nova estrutura substituiu o serviço prestado, até então, pelo Fleury. Um investimento “estratégico”, segundo Cesar Nomura e Fernando Ganem, diretor de medicina diagnóstica e diretor-geral, respectivamente, do Sírio-Libanês.
Todo mês, o hospital e suas quatro outras unidades processam entre 450 mil e 500 mil exames. Com o novo laboratório, a estimativa é de que seja possível dobrar a capacidade.
Trocar um laboratório é uma operação logística complexa, mas o entendimento do comando hospital era de que se tratava de um negócio core.
“Análise clínica faz parte da jornada dos pacientes e ter o próprio laboratório facilita adaptação às demandas do pronto socorro e da UTI. Mesmo tendo um parceiro de qualidade, na pandemia percebemos que, para o laboratório é diferente ter olhar de dono para uma área tão crítica”, diz Nomura.
Pelas estimativas da equipe, o tempo de processamento de um exame pode cair em até 50%. A quantidade de tubos utilizados também deve ficar 20% menor, bem como a necessidade de repetir a coleta deve diminuir
“Com as tecnologias, conseguimos coletar mais exames dentro do mesmo tubo de sangue e, com a capacidade de armazenagem, o médico pode pedir para a mesma amostra uma nova análise que não havia sido solicitada”, diz Nomura.
Com o uso de IA, os equipamentos permitem detectar amostras com resultados alterados, com o algoritmo fazendo a checagem e recomendando a inclusão de outros exames confirmatórios ou complementares.
A ideia é de que a equipe técnica do laboratório atue mais como conselheira e consultora junto à equipe médica do que simplesmente faço o processo das amostras.
O laboratório conversa ainda com outras frentes: pesquisa e ensino.
Além de cursos de especialização em diferentes áreas médicas, há um ano a faculdade do Sírio-Libanês oferece cursos de enfermagem, fisioterapia e psicologia.
Recentemente recebeu aprovação para o curso de biomedicina. “Estamos também na expectativa para o curso de medicina”, diz Ganem.
Dobrar até 2030
A inauguração do novo laboratório vem em um momento de aceleração de investimentos do Hospital Sírio-Libanês, que quer dobrar sua estrutura até 2030.
Uma das principais iniciativas é a nova unidade no Morumbi, cuja inauguração deve acontecer em 2026.
O movimento expansionista tem pressionado as contas da fundação em um momento de juros altos e de cenário ainda complexo para o setor.
Prestadores de serviço, como os hospitais, ainda sentem as consequências dos desarranjos da pandemia, com as operadoras prolongando prazos de pagamentos para ganhar fôlego financeiro.
Mais de 15% da receita dos hospitais ficou retida pelos planos ao longo de 2023, segundo um levantamento da Associação Nacional de Hospitais Privados (Anahp), numa fatura de mais de R$ 6 bilhões.
O ambiente, diz Ganem, já é melhor ao fim deste ano, com prazos de pagamento já mais ajustados, especialmente em São Paulo.
De 2022 para 2023, a dívida cresceu 40%, chegando a R$ 851 milhões e elevando o índice de alavancagem de 2,6x para 3,4x.
A pressão financeira fez o grupo filantrópico fechar o ano no negativo, com perda de R$ 23 milhões. Os números deste ano ainda não são públicos, mas a trajetória não deve ser tão diferente, segundo o diretor-presidente.
“Tradicionalmente, o Sírio foi sempre bastante conservador na alavancagem. Mas hoje tem o planejamento estratégico. Quando você acredita nesse planejamento, você tem que investir. Então, é um investimento responsável,” defende Ganem.
“Mesmo que a nossa margem diminua nesse momento, nosso foco é perenidade. Queremos chegar em mais 100 anos”, completa Nomura.
Para lidar com o momento, o grupo tem reperfilado suas dívidas. Fez captações da ordem de pouco mais de R$ 300 milhões em 2022 e 2023 e, neste ano, as captações somaram R$ 600 milhões, sendo R$ 500 milhões por meio de um CRI lastreado em despesas de aluguéis devidas pelo Hospital Sírio-Libanês.
E já há novas necessidades de investimento identificadas. Um ponto crítico, diz Ganem, tem sido aumentar a capacidade, com abertura de mais leitos.
Em 2023, a ocupação de todo o grupo ficou em 83%, neste ano já se aproxima dos 90%, com momentos de 100% de ocupação na unidade de Brasília.
“Estamos com uma ocupação muito elevada. Tem um ‘pulmão’ de leitos, que abrimos e fechamos conforme necessidade, mas queremos fazer com que deixe de ser pulmão e vire core”, diz Ganem.
Outro caminho para fortalecer a capacidade do grupo devem ser parcerias com outras instituições, inclusive internacionais.
Por ser um grupo filantrópico, o Sírio não tem joint-ventures com outras empresas (modelo que algumas operadoras têm adotado com alguns prestadores de serviço como as JVs do Bradesco Saúde com a Rede D’Or e a da Porto Saúde com a Oncoclínicas), mas estuda formatos similares, com “parcerias que devem ser anunciadas em breve”, segundo Ganem.
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