Missão Artemis: Nasa envia manequins à Lua para avaliar trajeto de astronautas

À medida que a missão Artemis II da Nasa — que enviará quatro astronautas para circunavegar a Lua já no próximo ano — se aproxima, um novo estudo revela o quão bem a nave espacial Orion protegerá a tripulação. Para isso, manequins voaram ao redor da Lua em uma missão na qual astronautas poderão seguir em breve. Cientistas também acabaram de revelar como foi a viagem dos modelos.

As descobertas são baseadas em dados da Artemis I, uma viagem de 25 dias que ocorreu ao redor da Lua e de volta à Terra, no final de 2022. Nessa missão, a cápsula Orion, que seguiu uma trajetória semelhante à prevista para a Artemis II, estava sem tripulação, mas carregava convidados especiais não humanos.

Dois desses convidados, torsos de manequins chamados Helga e Zohar, serviram para testar quanto de radiação os astronautas poderiam enfrentar ao se aventurarem até a Lua. Os modelos eram feitos de materiais que imitam os tecidos moles, órgãos e ossos de uma pessoa e, como a nave, incluíam detectores para monitorar a exposição à radiação ao longo do caminho.

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Agora, os cientistas divulgaram os primeiros resultados após estudarem os dados dos detectores, publicados na quarta-feira (18), na revista Nature. As descobertas mostram que a tecnologia de proteção usada na nave foi eficaz em mitigar a radiação durante a viagem.

“A missão Artemis I marca um passo crucial para avançarmos na compreensão de como a radiação espacial afeta a segurança das futuras missões tripuladas à Lua”, disse Sergi Vaquer Araujo, líder da equipe de medicina espacial da Agência Espacial Europeia, em comunicado.

Araujo não participou do estudo, mas a Agência Espacial Europeia contribuiu com cinco dosímetros móveis para medir a radiação em toda a nave Orion.

“Estamos ganhando insights valiosos sobre como a radiação espacial interage com a proteção da nave, os tipos de radiação que penetram até o corpo humano e quais áreas dentro da Orion oferecem mais proteção”, acrescentou Araujo.

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A espaçonave Orion da Nasa, da missão Artemis I, foi recuperada com sucesso em 11 de dezembro de 2022, na costa da Baja California • Regan Geeseman/Nasa

Preocupações com a radiação

A Nasa estuda o impacto da radiação espacial na saúde humana há décadas, desde as primeiras missões tripuladas nos anos 1960. Dados também são coletados regularmente de astronautas que passam de seis meses a um ano a bordo da Estação Espacial Internacional.

A estação permanece em órbita baixa da Terra, o que significa que ela é parcialmente protegida pelo campo magnético do planeta, além da proteção pesada incorporada ao design do laboratório espacial. O campo magnético da Terra também impede que os raios cósmicos alcancem os astronautas.

Mas, em futuras missões ao espaço profundo, os astronautas ficarão longe dessa proteção e precisarão contar com uma nave bem blindada e trajes espaciais protetores.

Missões de longa duração à Lua e Marte exporão os astronautas à radiação dos raios cósmicos, partículas de alta energia que se movem pelo espaço. Para alcançar o espaço exterior, os astronautas também terão que atravessar os Cinturões de Van Allen da Terra, duas faixas de radiação que cercam nosso planeta como enormes roscas, segundo a Nasa.

Sensores embutidos na cápsula Orion capturaram dados contínuos de radiação na jornada da Terra à Lua e de volta pela primeira vez, disseram os pesquisadores. Embora haja alguns dados das missões Apollo, eles não foram coletados continuamente.

Os sensores mostraram que a exposição à radiação dentro da Orion variava significativamente dependendo da localização dos detectores, segundo os autores do estudo.

Abrigo cósmico contra tempestades

À medida que a Orion passava pelos Cinturões de Van Allen, os dados mostraram que as áreas mais protegidas, como o “abrigo contra tempestades” da cápsula, forneciam quatro vezes mais proteção do que as áreas menos protegidas. Os pesquisadores determinaram que a exposição à radiação nesses locais se manteve em um nível seguro para evitar a doença aguda causada por radiação nos astronautas.

“O abrigo contra tempestades é uma área bem compacta usada para armazenar suprimentos da tripulação”, disse Stuart George, principal autor do estudo e cientista do Grupo de Análise de Radiação Espacial no Centro Espacial Johnson da Nasa, em um e-mail.

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“Descobrimos que o abrigo contra tempestades era a área mais protegida da nave, o que é ótimo, por ser projetado para isso!”, completou.

Atravessar os Cinturões de Van Allen foi considerado comparável à tripulação enfrentar um evento de clima espacial.


O estágio principal do foguete Artemis II chegou ao Centro Espacial Kennedy da Nasa em 24 de julho • Kim Shiflett/Nasa

Conforme o Sol se aproxima do máximo solar — o pico de seu ciclo de 11 anos, esperado para este ano —, ele se torna mais ativo. Com isso, libera intensas erupções solares e ejeções de massa coronal, que são grandes nuvens de gás ionizado, conhecidas como plasma e campos magnéticos que se desprendem da atmosfera externa do Sol.

Quando essas erupções são direcionadas à Terra, podem afetar espaçonaves, satélites, a estação espacial e até a rede elétrica no solo. “Isso nos ajudou a validar o design do abrigo para proteger a tripulação de eventos energéticos de partículas solares causados pelo clima espacial”, disse George.

As exposições a raios cósmicos, que podem ser responsáveis pela maior parte da radiação que os astronautas enfrentam em voos espaciais de longa duração, foram 60% menores na Artemis I do que em missões anteriores, incluindo missões robóticas para Marte, disse George.

A equipe também observou uma surpresa nas descobertas. Enquanto a Orion passava pelos Cinturões de Van Allen, a espaçonave realizou uma manobra de giro para queimar os propulsores, garantindo que estivesse na trajetória correta.


Os torsos de manequim Helga (à esquerda) e Zohar foram retornados à Terra pela missão Artemis I para os pesquisadores verificarem quanto de radiação estavam expostos; Zohar usava um colete protetor • Cortesia da Nasa

Durante a manobra, os níveis de radiação dentro da cápsula caíram 50%, pois a manobra colocou mais parte da blindagem da Orion no caminho da radiação, explicou George.

As medições feitas durante a Artemis I poderão orientar o design de futuras missões espaciais tripuladas, disseram os autores do estudo.

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Planejamento para Artemis II

Se uma tempestade solar ocorrer enquanto os astronautas da Artemis estiverem no espaço, ela poderá durar dias.

O conceito de abrigo contra tempestades foi alterado para a Artemis II. Isso ocorreu devido à possibilidade de o refúgio menor, a bordo da Artemis I, não ser grande o suficiente para a tripulação operacionalizar normalmente caso precisem permanecer lá por um longo período em uma tempestade solar – também conhecida como evento de partículas solares.

“Na Artemis II, a tripulação amarrará [com elásticos] suprimentos à parede menos protegida da nave Orion”, disse George por e-mail.

“Isso significa que, durante um evento de partículas solares energéticas, a tripulação poderá usar muito mais espaço da cabine, ainda estando efetivamente protegida da radiação. Será muito interessante testar isso no espaço, com a tripulação envolvida.”

O estágio principal do foguete da Artemis II chegou ao Centro Espacial Kennedy da Nasa, na Flórida, durante o verão, sendo que a montagem do foguete da Artemis III, programada para 2026, já está em andamento. A Artemis III cogita levar as primeiras astronautas mulheres e afrodescendentes para o satélite.

Enquanto isso, a tripulação da Artemis II, incluindo os astronautas da Nasa Reid Wiseman, Victor Glover, Christina Koch e o astronauta canadense Jeremy Hansen, treinam em campo na Islândia. Embora não façam uma aterrissagem, a tripulação viajará 7.402 quilômetros além do lado oculto da Lua para captar imagens de características da superfície lunar, como crateras, a partir da órbita.

“Ter humanos segurando a câmera durante uma passagem lunar e descrevendo o que veem em uma linguagem que os cientistas possam entender é uma vantagem para a ciência”, disse Kelsey Young, líder de ciência lunar da Artemis II e oficial de ciência no Centro de Voos Espaciais Goddard da Nasa, em Greenbelt, Maryland, em um comunicado.

“Na maioria, é isso que treinamos os astronautas para fazer quando os levamos para esses ambientes semelhantes à Lua na Terra”.

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Este conteúdo foi originalmente publicado em Missão Artemis: Nasa envia manequins à Lua para avaliar trajeto de astronautas no site CNN Brasil.


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